quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Antonio Cardoso - BA: como surgiu o território do município? E o nome?

O atual território do município de Antônio Cardoso tem suas origens embrionárias na invasão dos portugueses na bacia do rio Paraguaçu e nos massacres de seu povo milenar – Payayá (alguns traduzem do tupy por “filho dos espíritos das águas”). Há milhares de anos os povos indígenas, como os Payayás, povoam a bacia do rio Paraguaçu. A linha cronológica da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, sobre os marcos históricos: etapa regional – Bahia da invasão, revela que os invasores portugueses entraram em contato com o povo Payayá por volta de 1531, na foz do rio Paraguaçu no litoral do recôncavo baiano. As cartas do diretor do povo Payayá na bacia do rio Paraguaçu, João Peixoto Viegas, também confirmam o predomínio do povo Payayá na região. Com a invasão dos portugueses na bacia do Paraguaçu, o povo Payayá sofre vários tipos de maus tratos além de tomarem as suas terras e escravizá-lo. No livro Índios Tupi-Guarani na Pré-história encontra-se registrado que foram massacradas, na bacia do rio Paraguaçu, cerca de 160 aldeias dos povos milenares com uma população por volta de 50 mil pessoas, na época colonial, que resiste à escravização. Na região ainda encontra-se várias famílias que se autodeclaram a ascendência Payayá. Segundo algumas cartas de doações de sesmarias na região, João Lobo de Mesquitas se apropriou, através de guerras, das terras entre os rios Jacuípe e Paraguaçu até as suas nascentes na Chapada Diamantina e vendeu em torno de 1655 para João Peixoto Viegas. O novo posseiro cuida de consolidar a dominação na região escravizando, matando ou transportando os Payayá que resistiam, para outras localidades (descarta em outros conflitos) e incentiva que outros invasores tragam povos africanos escravizados para cultivarem o fumo (planta indígena) e a criação de gado nas fazendas da região, a exemplo, da Santo Antonio. É provável que a introdução de africanos na região não demorou devido a proximidade de Cachoeira e a lucratividade do sistema escravista. Os Payayá e os africanos resistiram de vários modos à escravidão. Estas terras são conhecidas por Sesmaria de Jacuípe, na qual, o livro Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora, publicado em Lisboa/Portugal no ano de 1722, traz o registro que o padre jesuíta João de Aragão e Araujo cria a capela dedicada a imagem do santo Estevão em 1690, no lugar conhecido por Jacuípe (atual Santo Estevão Velho) como freguesia (distrito) de Cachoeira para catequizar os indígenas e afros. No “título CXIII” deste livro revela que existe na igreja do distrito de Jacuípe (Santo Estevão Velho) uma santa chamada Nossa Senhora do Rosário de Jacuípe. Esta imagem por ser de barro e preservar o primeiro nome histórico do território fica presa para evitar que seja destruída. As imagens de santo Estevão e Nossa Senhora do Rosário de Jacuípe são as mais antigas do município. A população da capela de Santo Estevão, no lugar Jacuípe, se constituía por senhores de escravos, afros e indígenas escravizados. Mas a maioria é pobre e o maior agrupamento indígena na região ficava alguns quilômetros ao oeste, dificultando a catequização e a arrecadação do dízimo. Por volta de 1739, o padre José da Costa Almeida retira a imagem para o lugar que concentra mais indígenas, a imagem some de lá e é colocada na capela de Jacuípe. Mas os administradores da igreja instalam a administração colonial da região lá para catequizarem os indígenas e arrecadarem o dízimo. Arranjam outra imagem e em 1751 criam a capela de Santo Estevão do Jacuípe, elevam à condição de freguesia de Cachoeira em 1752 e passa a administrar o território da capela no lugar Jacuípe agora conhecida por Santo Estevão Velho. Depois de décadas, em 1823, o padre de Santo Estevão do Jacuípe, Francisco Gomes dos Santos Almeida, solicita autorização do Arcebispado para criar uma capela Resgate como centro administrativo do território da capela de Santo Estevão Velho. Através da Resolução Provincial nº 183 de 10/04/1843, sancionada pelo presidente da província baiana Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos, se instala a freguesia de Nossa Senhora do Resgate das Umburanas como filial de Santo Estevão do Jacuípe. O território da freguesia de Resgate das Umburanas continuou dominado pela freguesia de Santo Estêvão do Jacuípe até a Lei Provincial nº 804/1876 incorporar ao território da cidade comercial de Feira de Santana para separar os santos Estêvão e abafar a perda do nome da imagem pela capela do lugar Jacuípe. Depois o território da freguesia de Resgate das Umburanas foi incorporado a Vila de São Gonçalo dos Campos, quando esta foi criada pela Lei Provincial nº 2.460 de 28/07/1884. Em 1920 o nome do distrito é reduzido para Umburanas. O território teve o nome mudado por imposição do poder Estadual para Uberlândia pelo Decreto Estadual nº 11.089, de 30/11/1938, de autoria do Interventor Federal na Bahia, Landulpho Alves, que altera as denominações de várias comunidades do Estado. Sem consultar seus habitantes nem apresentar explicações convincentes para justificar a mudança. Tempo depois, outras comunidades resgataram seu nome histórico que identifica a unidade territorial e respectiva cultura da população. Nenhum representante do distrito de Umburanas na vila de São Gonçalo dos Campos, na época, deu importância. Posteriormente, a denominação do distrito sangonçalense de Uberlândia mudou para Tinguatiba pelo Decreto Lei Estadual nº 141, de 31/12/1943, ratificado pelo Decreto estadual nº 12.978, de 01/06/1944. Alguns membros da família Cardoso dominam a política do distrito desde a segunda metade do século XIX. Na década de 1960 articulam a emancipação do território com o deputado estadual Gastão Pedreira. Este apresenta o projeto de Lei Estadual nº 1.794/61 na Assembleia Legislativa da Bahia e é aprovado, transformando na Lei Estadual nº 1.682 de 18/04/1962, que cria o município, mas retira o nome Tinguatiba. O autor do projeto atende os interesses da família Cardoso e impõe o nome do patriarca no território, Antonio Cardoso, latifundiário na região desde o século XIX. A instalação da Câmara de Vereadores e da Prefeitura só ocorre em 14 de abril de 1963, emancipando o território do município de São Gonçalo dos Campos. Por volta de 1966, o território volta a ser dominado por Santo Estevão, sendo anexado como Comarca Jurídica que continua até hoje. O município possui 4 distritos: Santo Estevão Velho – ex-Jacuípe (criado pelos portugueses como uma das primeiras freguesias de Cachoeira e reconhecido pela Lei Municipal nº 30/1999), Sede – ex-Umburanas (reconhecido pela Resolução Provincial nº 183 de 10/04/1843), Oleiro (reconhecido pela Lei Municipal nº 034/2008) e Poço (reconhecido pela Lei Municipal nº 30/1999). Autor: Arnaldo Soares
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