domingo, 21 de junho de 2020

São João: a festa indígena de ano novo copiada pelos cristãos


Você sabia que os povos indígenas sempre fizeram festa no mês de junho comemorando o início do Inverno?

Infelizmente muitos professores ensinam nas escolas que a festa de junho é para os santos católicos. Professor da ignorância! 

Milho, símbolo da festa indígena de inverno














Os povos indígenas dominavam a Astronomia como o Solstício de INVERNO e VERÃO antes dos invasores europeus chegarem. Ainda hoje, o calendário Andino-Amazônico comemora o início do inverno, em 21 de junho, como ano novo.  

"Festas Juninas e Cosmologia Indígena -  O SOLSTÍCIO DE INVERNO

Festas Junina e de São João – uma das mais tradicionais festas brasileiras, possuindo profundas origens indígenas relacionadas à cosmologia sagrada ancestral. Apesar de poucos saberem disto, mesmo de forma inconsciente, exercitam nossas tradições primordiais. (...)  o calendário cristão oficial com seus Santos e datas reelaboraram e/ou incorporam elementos das culturas naturais de diferentes Povos de Pindorama (“Brasil”), Abya-Yala (“América Latina”) e mesmo entre as comunidades anteriores ao cristianismo oficial na África, Ásia e Europa. (...)

Por estes dias Jacy (Lua) se faz mais poranga (bonita) ainda e repleta de energias essenciais. As noites ficam mais longas e os dias mais curtos. Sinta, veja e/ou imagine Jacy clareando a noite e deixando seu rastro de luz pelo mar, rios e lagos como se fosse uma estrada iluminada.

Mas não é só Jacy que se faz mais bela ainda. O sol que alguns Parentes chamam de Kûarasy, uma das moradas de Tupã, também se embeleza. Mas ele (Kûarasy) prefere admirar toda graça de Jacy e dá licença pra ela ficar mais tempo no Céu – Ybaca.

Por isto que, nesta época, os dias ficam mais curtos e as noites mais longas. Alguns chamam estes tempos de solstício … para os Povos da Terra é momento de festejarmos a natureza sagrada.

As festas juninas são profundamente vinculadas às relações do homem e mulheres com a natureza (terra, lua, chuva, céu), sendo uma homenagem à ela porque nos mantém vivos e naturais. Em grande parte do território brasileiro é momento de agradecer e festejar a colheita do que foi plantado. (...)
Esta é uma das épocas também de rituais ancestrais indígenas, conviver em comunidade, partilhar e fertilidade. Um dos momentos quando ocorre o início do ciclo do Kûarasy e de Jacy, quando a radiação solar na Aupaba – Pachamama – Mãe Terra atinge o seu momento máximo. Kûarasy (Sol) que é uma das moradas de Tupã. (...)

que é o solstício na explicação “racional”. Para isto recorro ao referencial Dicionário Houaiss porque sintetiza pensamentos vigentes. Diz o Dicionário sobre o solstício:

“cada uma das duas datas do ano em que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, no seu aparente movimento no céu, e que são 21 ou 23 de junho (solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte) e 21 ou 23 de dezembro (solstício de verão no hemisfério sul e de inverno, no hemisfério norte). Solstício inverno é o dia do ano em que o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais baixo no céu, e tem-se o dia mais curto do ano e a noite mais longa. Solstício de verão é o dia do ano em que o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais alto no céu, e tem-se o dia mais longo e a noite mais curta do ano” (Dicionário Houaiss)

Muitos Povos Indígenas, neste período que alguns chamam de junho, antes mesmo da chegada dos portugueses, realizavam rituais com canto, dança e muita comida. Eram rituais achegados ao plantio e fertilidade. Por isto as festas juninas tem várias comidas típicas advindas das tradições indígenas: quentão, licor de jenipapo, come milho verde, aipim, cuscuz, peão, pipoca, bolo de fubá, mungunzá, curau, canchica, gengibre, cravo, canela, pamonha, maça do amor, canjica, amendoim, bata-doce, aipim, paçoca, pé de moleque, pé de moça … (...)
Com a chegada dos jesuítas portugueses e suas imposições, os costumes indígenas, em muitos lugares, reelaboram suas tradições. O caráter religioso dos festejos juninos foram antropofagicamente ressignificados pelas tradições indígenas. Por isso que as festas, mesmo celebrando santos católicos, de forma espontânea reelaboram seus significados, transformando-se naturalmente num festejo com profundas marcas ancestrais indígenas.

Realçamos, novamente, para nós estes festejos fazem parte da (re)existência sociocultural e espiritual indígena porque representam nossas tradições, ancestralidades e convívio com a natureza sagrada. Sempre é bom relembrar, como escrevemos no início deste texto: quem produz os alimentos típicos da época e quase todos que comemos não é o agronegócio e/ou os ruralistas. Estes produtos e nossa alimentação cotidiana quem produz é agricultura tradicional feita nas roças indígenas e não indígenas.

Talvez também por isto existe uma tentativa de desapropriar as festas juninas do povo e de suas tradições populares e indígenas, tornando-as produtos. Produtos feitos em forma de festas juninas padronizadas comercialmente, bandas de forró eletrônico, sertanejos industrializados, transformando alguns dos lugares tradicionais destes folguedos espaços “para turista vê” (ou tentar comprar), somente acessíveis a quem tem dinheiro como os rodeios e as festas do agronegócio.

As tradições populares e indígenas, por vezes, são apresentadas de modo estereotipadas como pitorescas, pertencentes ao passado, precisando ser superadas e/ou readequadas. Muitas das músicas do forró tradicional e da música caipira de raiz em suas tradições incomodam porque falam dos que vivem na e da terra, num modo de vida que, mesmo inconscientemente, desaviam a lógica produtiva do agronegócio."
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