domingo, 26 de janeiro de 2020

Cristãos falsificaram a tradução do sentido do Deus Tupã

Santiago do Iguape/ Cachoeira - BA
Toda tradução distorce o sentido da língua original mas quando se fala das traduções feitas por cristãos das línguas indígenas, a situação é grave. A guerra por fiéis levaram os cristãos a criarem falsas compreensões sobre a espiritualidade dos indígenas. A cultura dos povos nativos foi distorcida pelos cristãos para afastarem os nativos de suas origens. Hoje os evangélicos dão continuidade a esta política de terrorismo religioso e ridicularização cultural.

Traduções feitas por cristãos das línguas nativas são carregadas de discriminações para impor a cultura européia como superior.

Antes de aceitarmos qualquer tradução das línguas nativas feita por estrangeiros não se deve esquecer que os interesses deles eram dominarem os nativos, programarem no cristianismo e impor o sentimento de inferior e a cultura estrangeira como superior. Até hoje, a maioria da população tem o complexo de inferioridade cultural - considera a cultura estrangeira evoluída ou superior. Enquanto se sabe que não existe cultura verdadeira. Os padres conseguiriam dominar os nativos sem fazerem os nativos acreditarem que seu modo de pensar é inferior?

O estudioso da língua Tupy, Plinio Ayrosa traduz a palavra "Tupã - (tu-pã) - a queda, o que cahe estrondejando, o raio, a faisca electrica. Depois da chegada dos jesuitas, passou a designar Deus. Tambem tupana."


Observando esta tradução da palavra "Tupã" nota-se que predominou o sentido do fato natural "trovão" e excluíram a presença do fogo. Por quê? Mais aberrante quando se analisa o fato natural com a compreensão de Deus européia dominante na mentalidade do invasor. Provavelmente, esta interpretação cria um sentido distorcido na compreensão da palavra para seu sentido no contexto da língua tupy. Esta questão fica evidente quando se analisa os vários sinônimos da palavra e só o trovão é enfatizado. Na tradução em análise a palavra "tupã" não tem sentido de trovão mas compreende a ação do fato natural. Ainda pode ser traduzida por "o raio, a faisca electrica". Neste caso, o sentido razoável para o português, ao se tratar de um fenômeno divino, seria "fogo sagrado".



Mas por que os padres não priorizaram o sentido fogo? Estranhamente os jesuítas negaram a relação da palavra "tupã" com o sentido "fogo" e enfatizaram o fato natural "trovão". Talvez, considerar que os nativos compreendiam o fogo como sagrado seria um desastre para o projeto de dominação através da catequização. Já que a maioria das religiões que cultuam o sagrado tem a presença do fogo, logo, colocaria a compreensão dos nativos sobre o fenômeno divino no mesmo nível das culturas invasoras. A relação de trovão com Deus seria cômoda para os invasores porque ajuda nos interesses deles: menosprezarem as culturas e os povos nativos além de implantarem o sentimento de inferior. Traduzir é distorcer e a distorção cultural é a arma de qualquer projeto colonizador. Quando se examina a tradução a partir da hermenêutica da facticidade, é provável que a palavra "tupã"  enquanto "trovão" não expresse o sentido do fenômeno divino do fogo no contexto da língua tupy. Pois a verdade se mostra no cotidiano e não através da sistematização de saberes.

Tal tradução  provavelmente é carregada de sentido pejorativo ou depreciativo para inferiorizarem os povos dominados e reforçarem o pensamento entre os invasores que os nativos são inferiores. Estas traduções são os alicerces do ensino de escolas e universidades hoje. Talvez o sentido razoável do termo "tupã", no contexto da língua tupy, enquanto fenômeno divino seja "o fogo sagrado" por originar fora da terra  e expressar um fenômeno místico. O fato natural trovão é uma compreensão pejorativa e limitada dos invasores sobre as culturas nativas e não entra na discussão do âmbito da criação de sentido da língua tupy em seu contexto de vivência.


A dominação dos nativos através da distorção cultural não se limita a espiritualidade. Um outro modo foi a negação das origens através da miscigenação. Até recente os próprios pesquisadores e os estudos das universidades negavam o nativo miscigenado, como se eles perdessem a humanidade. Ou seja, a mistura de nativo com branco se considerou caboclo. Já a mistura de nativo com afro se denominou de cafuzo. Tanto o caboclo quanto o cafuzo são desconhecidos para as origens nativas. Na verdade, tudo foi planejado para não garantirem os direitos dos ascendentes nativos, miscigenados ou não.

Nos dias atuais a negação é evidente nas estatísticas, principalmente, do órgão governamental, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatíticas - IBGE. Este órgão governamental vem confundindo o ascendente nativo como povo afro. O genocídio e etnocídio dos povos nativos são propositais porque a existência deles ameaçam as fortunas incalculáveis que roubaram e continuam roubando para favelizarem e empobrecerem os nativos. O extermínio continua sendo feito através da bala, da bíblia, da difamação/calúnia ou da fome.     

O projeto de dominação imposto pela tradução foi um sucesso, até hoje, os enredos próprios dos povos dominados para desconstruírem os pre-conceitos são ignorados diante as traduções. Hoje, para os povos nativos golpearem a dominação que estão submetidos, não devem ignorar a desconstrução das traduções e compreensões estrangeiras sobre suas línguas. Por trás de qualquer tradução predomina interesses diversos e obscuros. Toda tradução é questionável. No caso das línguas nativas, a verdade se mostra no contexto de uso das línguas e não na escrita inflexível.



                                                                                                                                                25/11/2019
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