segunda-feira, 1 de julho de 2019

Cor da população brasileira é falsificada

Atualizado em 09.08.2020

Se o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE quer conhecer a cor do brasileiro deve trocar o termo "pardo" por "vermelho" e retirar a palavra "indígena" ou tirar as palavras preto e pardo e deixar negro. Ou ainda substituir "pardo" por "afro-descendentes". As pesquisas sobre a população brasileira substituem a investigação Etnogêse ou Etnológica pelo uso de termo vagos e equivocados como "negro" e "pardo". Tudo que se produziu apoiado nesses termos são duvidosos.



1. Transformação de "pardo" em Negro (afro) 


O termo "pardo" deriva do latim pardus, quer dizer leopardo. No Brasil, o pardo é uma invenção dos invasores (Caminha). O  dito pardo não tem origem antropológica por isso não é considerado povo. Neste caso, o discurso favorável a Mestiçagem esconde o racismo sutil contra afros e indígenas: aos afros para negar a descendência, aos indígenas para incentivar o apagamento, destruição dos grupos, ... e facilitar o roubo das terras.

No Brasil o conceito social "Negro" possui dois sentidos predominantes. Na compreensão histórica, das ciências sociais e popular trata dos afros-descendentes. Já alguns funcionários do IBGE usa o termo negro com vários sentidos. Ou seja, para uma parte dos técnicos do IBGE o grupo negro forma pela soma dos pretos com os pardos. Esta interpretação se fundamenta no discurso do movimento negro que junta os grupos preto e pardo. 

Sabe-se que nenhum humano é puro, assim, pela definição rasa de Pardo no manual do Censo/IBGE qualquer pessoa se enquadra. Isto demonstra o quanto o termo "pardo" é vazio de origem antropológica. Foi uma invenção da colonialidade para justificar a dominação estrangeira e continua viva até hoje. Veja ao lado as orientações do Censo 2020 que circula nas redes sociais. Merece destaque para o fato que o sangue indígena pode se reconhecer independente do local que mora, inclusive em áreas quilombolas.

Em 2010, o projeto racial da esquerda brasileira, em especial do PT, oficializa a junção de "preto" com "pardo" formando o grupo social "Negro". O inciso IV do artigo 1 desta lei - Estatuto da Igualdade Racial - reforça o apagamento Estatístico e através das Leis e o Racismo Institucional contra o sangue indígena que se declara pardo. Veja abaixo o trecho da LEI Nº 12.288/2010 que considera "pardo" como negro (afro):

"Art. 1- (...) Parágrafo único.  Para efeito deste Estatuto, considera-se:

IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;"


É importante reforçar que a ciência História e as Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia,...) consideram Negro descendente de afro. Neste caso, esta LEI apaga o sangue indígena que se declara pardo e transforma em afro. Ela representa mais uma armadilha contra o sangue indígena. Basta a lei de cotas em concurso público federal que não reserva vagas para indígenas. Seus reflexos já estão na prática: muitas famílias que o Estado taxou pardo no Registro, assim como, a Fundação Nacional do Índio - FUNAI - vem fazendo com o Registro Administrativo Nacional Indígena - RANI - ,  a maioria da população da Região Norte é considerada negra (afro). 

Por exemplo, o censo de 2010 revela que quase 70% da população do estado do Amazonas se declara negra. Isto demonstra que a metodologia do órgão não é confiável. Além disso, o antropólogo  Viveiro de Castro defende que as regiões com maior população nativa são o Sul, Sudeste e o Nordeste. Confira clicando aqui. Justamente as com presença forte dos ascendentes estrangeiros. Isto ocorre porque muitos nativos são expulsos de suas terras e acabam migrando para  as cidades grandes na esperança de encontrarem condições de sobrevivências. Muitos passam a morarem nas periferias, favelas, se ocuparem das atividade informais, tráficos de drogas,...A tese deste antropólogo comprova mais uma falha da metodologia do IBGE e o quanto a sociedade é discriminadora na negação nativa, seja o aldeado ou urbanizado. Diante esta situação resta uma pergunta: de que adianta ter o sangue, o fenótipo, morar em aldeia e se negar?

 

Desde a carta de Caminha, o termo "pardo" passou a identificar os nativos ou misturados, depois o movimento negro se apropriou e agora esta lei oficializa como de origem afro. Nesta interpretação permite várias distorções porque passa a agrupar os negros de origem não-afros e os afros. Por exemplo, para esta interpretação a mistura entre si de asiáticos, ciganos, indígenas e brancos são negros com origens não africanas. Inclusive vários políticos de ascendência não-afro são considerados negros por se declararem pardos mas a culpa não é deles e sim da lei 12.288/2010, do Estatuto da Igualdade Racial, que apropria dos equivocados da metodologia do IBGE. Clique aqui para ler sobre esta confusão no uso do conceito negro. Esta confusão no sentido do conceito negro também vem gerando transtornos e constrangimentos na políticas de cotas raciais. Para ler sobre as confusões nas cotas clique aqui.


Leia mais: Consciência Negra: dia da confusão na consciência racial do brasileiro


2. Cor ou Étnia nos Censos e Estatísticas?

Quando se trata em cor de pele, no Brasil, chama a atenção para as opções vagas  sugeridas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Ou seja, as opções para tratarem da mistura étnica  são direcionadas com  o propósito de negarem a presença nativa na população.

Cabe ainda citar os termos vagos usados nos estudos da população que ajudam distorcer a realidade como pardo e negro. Ambos são usados pelas pesquisas governamentais mas não tem definições claras. 

Qual o sentido de pardo? Pardo é uma cor? É possível se identificar essa cor com clareza? De que trata o termo negro? Considera-se negro a soma dos pardos com os pretos, aumentando a confusão étnica ou racial. Destacam também termos populares como caboclo, sertanejo, caipira, mestiço, dentre outros mas nunca se fala nativo.


Tais expressões só pioram a distorção sobre o estudo da população e pela vagueza abre espaço para interpretações equivocadas como o racismo e o pre-conceito racial. Gerando falso conhecimento sobre a história, culturas das etnias que formam a população do Brasil, principalmente, quando se trata dos povos nativos.  

Por exemplo, é comum se ouvir que na região Nordeste não existe mais nativo. Afirmações dessa natureza além de desconhecerem a realidade tem um conteúdo intencional de negar esses povos para não colocar em ameaça os confortos dos dominantes como o domínio sobre a terra. E por outro lado, ignorar as origens do sofrimento de uma multidão mutilada pelo abismo da miséria. A exemplo da região entre o recôncavo baiano até o rio São Francisco.

O modismo etnicorraciais, ou seja, tratar desta questão focada APENAS em uma narrativa - afro, e ignorando a nativa e cigana torna uma sociedade de viseira ou tendenciosa (só uma direção). Muitos também se reconhecem pardos ou pretos para serem beneficiados pelas políticas publicas e não por questões de origem étnica.

A pergunta do IBGE sobre a cor da pele é confusa, mistura cor com etnia (povo). Na pergunta oferece as sugestões de cor: branco, preto, amarelo, pardo e indígena. Considera NEGRO a soma das pessoas que se declaram pardas com as pretas.

Veja que indígena não é cor mas etnia (povo). Se alguém se declara indígena, em seguida, pergunta a etnia (povo). Como muitas pessoas descendem de índio acabam confusas entre as opções de cor e o povo, preferem se reconhecer parda.

Para piorar se alguém se declara indígena em seguida pergunta o povo (etnia). Como muitos as vezes não sabem suas origens desistem da opção índio.

Se a definição da pessoa se dá através da autodeclaração, então, a pergunta razoável não deveria basear na etnia (aspectos culturais, históricos, físicos dentre outros) ao invés da cor? Sabe-se que uma cor é determinada pela concentração da tonalidade: como o critério de cor pode ser usado para estudar o homem? Classificar o homem por cor nega a ancestralidade. Cor tem ancestrais e descendentes? Eu descendo de um povo (Payayá) e não de cor. A Cor nem sempre mostra as origens biológicas históricas.


3. Negação e apagamento indígena 


O IBGE só permite que o miscigenado se declare pardo ou indígena. No entanto, as próprias instituições sociais, como as escolas, universidades e os meios de comunicação criam uma falsa imagem do nativo na mente da população e na opinião publica. A qual, só considera nativo quem vive na mata e nega a presença de nativo nas cidades. 

Enquanto isso, a própria sociedade destrói as matas e roubam as terras dos nativos. Também existe as compreensões distorcidas sobre o nativo tratando como bárbaro (enquanto sofrem barbaridades dos civilizados: roubam, estupram, matam, escravizam e se escondem atrás da bíblia como bonzinhos ou inocentes), inferior, sem cultura, atrasado... A religião verdadeira é a cristã (católica e evangélica) ou até mesmo afro por se institucionalizar (templo) e hierarquizar (várias graduações de funções).

Embora, se sabe que desde o início das invasões dos territórios nativos, o cristianismo, foi e continua sendo, usado como uma arma para dominar. O próprio Pero Vaz de Caminha nos relata isso na carta de encontro português: “[...] a Terra de Vera Cruz [...] homens da terra [...] A feição deles é serem [...] quase avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos [...] os seus cabelos são corredios [...] se os degredados, que aqui hão de ficar, aprenderem bem a sua fala e os entender, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crerem na nossa santa fé [...] Portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da sua salvação [...] porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar [...] quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, seja, o acrescentamento da nossa santa fé."

A bíblia escondeu monstros como inocentes

Mas toda essa falsa compreensão visa forçar que os povos nativos neguem suas origens e misturem com os brancos e pretos para tomarem as terras, roubarem a madeira, as fontes de águas, minerais, plantas com valores medicinais e alimentícios... Segundo estudos, a ditadura militar matou mais de 8 mil nativos. Nas últimas três décadas mais de mil nativos foram mortos por fazendeiros, grileiros, oportunistas, madereiros, mineradores... Tudo é proposital visando negar a presença do nativo na população. Veja a estatística da população nativa na America Latina anos atrás.


Diga-se de passagem que a visibilidade do nativo foi eliminada dos contextos sociais. Ou seja, não se observa o protagonismo nativo em cargos públicos influentes. Só em dois momentos que aparecem: na década de 1980, quando o nativo Juruna torna deputado federal e em 2018, com a eleição da nativa Joênia Wapichana para deputada federal e da nativa Chirley Pankará para deputada estadual em São Paulo. Por que os programas de TV e emissoras de Rádio NÃO convidam nativos para falarem sobre vários temas sociais? Só chamam brancos e pretos! Estranho não é? Se lhe negam, desligue!

nativa Joênia, deputada federal

Recente chama a atenção outro fator que tem atuado a serviço do domínio dos brancos e para apagar a genética e a presença nativa na população. Refiro tanto a negação nativa  na mistura com o branco quanto o reconhecimento sem critérios claros de  comunidades afro ou quilombola. Neste caso, não leva em conta a mistura do preto com o nativo. Como uma comunidade com bisavó nativa pode ter sua origem afro? Tudo se justifica para criar um publico consumidor de serviço, eleitoral,... Essa negação do nativo gera prejuízos graves para as populações nativas e a constituição étnica, histórica e cultural da população.


Diante os relatos merece destaque dois pontos de vistas encontrados na internet. Seguem abaixo.

"Brasileiro não reconhece sua herança racial e cultural do índio porque, hoje, o reconhecimento de nossas raízes se dá de mão única. E que mão única é essa? Todo esse alvoroço em torno da causa negra, como se o Brasil fosse negro (ou só negro) e fosse oriundo apenas da miscigenação euro-africana.

Esse pessoal esquece que o Brasil não é e nunca foi homogêneo. Esquecem que enquanto na Bahia, na capital carioca e em quase toda Zona da Mata nordestina prevalece a miscigenação branco X negro, no Sul do país prevalece o branco descendente dos imigrantes. E esquecem ainda mais que o sertão nordestino foi forjado na mistura do português colonizador, do holandês invasor, do paulista bandeirante e das mulheres Cariris, Tarairiús e Tupis - quase sempre tomadas à força das tribos vencidas na conquista do sertão, e colocadas dentro de casa pra parir os filhos dos novos senhores.

Isso sem contar o Norte do país, de maciça herança nativa, e o Centro-Oeste.

Mas fazer o quê se somos (erroneamente) ensinados que o negro é o grande herói desse país e que o Brasil nasceu do ventre escravo africano?

O negro teve, sem dúvida, papel crucial no desenvolvimento da população de vastas regiões no país - e é justo que seja reconhecido nelas. Mas impor a realidade étnica e cultural de certas regiões do país às demais acabou por ofuscar o nativo americano como matriz cultural e racial do nosso povo." Natalycio Lucas

A formação e a pratica deformada de professores (clique aqui) e da mídia também ajuda falsear e ridicularizar o nativo dentro da sociedade. A repercussão dessas ações torna desastrosa para a população nativa. A opinião publica continua sendo formada a partir do senso comum que identifica nativo através do modo de viver.

O conhecimento popular sobre os povos Nativos além de ser discriminatório repete discursos seculares sem examinar os fundamentos: chama o nativo de "Índio" - essa palavra nomeia elemento químico e aqui não é a Índia. Antes de 1500 não se usava índio. Identifica as pessoas nativas através de aspectos banais como:

1. Características físicas (fenótipo) - muitos nativos tem as características mas  não se reconhecem por este rótulo;
2. Viver nu nas florestas (destruídas pelos brancos e pretos);
3.Tocar o maracá;
4. Usar o cocar;
5. usar o Arco e flecha.

IDENTIFICAÇÃO CORRETA é:
I. Ser descendente e se aceitar como nativo; e
II. Ser reconhecido por seu povo (etnia).

Muitos possuem o sangue e a pele vermelha mas preferem se negar declarando pardo ou negro. Outros se escondem atrás da bíblia,... Diante de tantos analfabetos diplomados é importante lembrar que Nativos se definem ao possuir o sangue, se aceitar descendente e ser reconhecido por seu povo.

Por outro lado, no Brasil roubaram e continuam roubando as terras e destruíram as florestas e exigem cinicamente que os Nativos vivam nus na floresta destruída, toque maracá, use o cocar, saiba usar o arco e flecha, possua características físicas destruídas pelos estupros praticados por brancos e pretos. Tais exigências são secundárias para definir os nativos.

De nada adianta ter sangue alemão e se reconhecer francês. Pois nenhuma exigência define ninguém se a pessoa não se reconhece com o padrão.

Nenhum nativo antes de 1500 e durante alguns séculos jamais compreendia o sentido europeu de ser índio, até mesmo, pelo fato de não saberem falar o português. Na verdade índio é o branco que buscava a Índia.

Sou nativo e não aceito que ninguém me defina. Eu que devo estabelecer as características que me identifico e não mentes sujas ditarem o que sou. O que pensam sobre mim identifica seu autor e não eu. Na minha mente me identifico por outro sentido totalmente diferente do que usam para identificar nativo. Ou seja, a palavra índio e indígena só tem sentido na cabeça do invasor estrangeiro porque para o nativo ela não expressa nada.

Segundo uma reportagem do jornal A Tarde com a historiadora Ana Paula (clique aqui)

"São séculos de políticas públicas para que os índios deixassem de existir 


Para além das escolas indígenas, você acredita que as escolas regulares ainda tratam a cultura indígena de modo folclórico?
Geralmente, as escolas só nos procuram em abril. É impressionante como os índios aparecem na história do Brasil quando Cabral chega aqui, em 1500, e depois eles desaparecem por um longo período. Você só vai ouvir falar um pouco de novo quando houve as comemorações pelos 500 anos do Brasil. Aconteceram aqueles confrontos, a pancadaria, a confusão. Então, eles ficaram um grande período da história com uma invisibilidade muito grande, como se não existissem. É um hiato histórico.  Isso faz com que as pessoas vejam os índios hoje como resíduos do passado. Eu não tenho mais paciência para responder quando dizem: ‘Ah, mas é índio e tá de celular?’. Respondo, né, porque é minha obrigação, mas os índios são povos do nosso tempo. Podem andar de avião, ter computador, usar internet, celular. 

Por que, na sua opinião, o movimento indígena não se fortaleceu no Brasil, a exemplo do que ocorreu com os movimentos negros, feministas e LGBTs, ao menos no que se refere à visibilidade? Por que não ganhou projeção?
Há um preconceito imenso com a questão indígena. Essa política anterior de Estado de querer que eles se integrassem, de querer que eles desaparecessem, de querer que eles não fossem índios mais, isso só mudou em 1988. É muito recente. A estimativa é  que nós temos um milhão de índios no Brasil. Acho que todo esse trabalho desde a época colonial, depois no Império, depois na República, de trabalhar para o desaparecimento deles teve esse reflexo. (...) Há todo um movimento indígena organizado. Mas aí a pessoa vê o índio protestando e vê o índio de celular e aí parece que já desmerece. Pelo amor de Deus, gente, os índios do Nordeste, tirando os Pataxós, não têm cabelo lisinho, não, olhinho puxado... Uns até têm, mas não são todos. Tem que entender o processo de como a história aconteceu. (...) Porque, do ponto de vista do ativismo europeu, eles só veem os índios da Amazônia, meio que como um complemento das campanhas ambientalistas, como guardiões da floresta, da biodiversidade, o que é verdade. Mas aqui também isso acontece, no semiárido, na caatinga, que são biomas mais discriminados, sem tanta visibilidade. Os índios também estão lá protegendo esses lugares. Nos estudos que fizemos com os Xokós, de Sergipe, é nítido como eles conseguiram recuperar a fauna e a flora num tempo relativamente curto, cerca de 30 anos. Na imagem aérea, você vê a área desmatada fora do território deles, e lá está tudo verdinho. Em pouco tempo já há essa regeneração. Quando fui visitar um dos limites das terras dos Xokós, fiquei impressionada. Tinha uma estrada separando e à esquerda era terra de fazendeiro. À direita, a terra indígena. A dos fazendeiros não tinha nada, era aquela poeira, só. E a dos índios era aquela caatinga bonita, sabe, aquela coisa exuberante.


A gente falava de folclore, e no Carnaval deste ano ativistas reivindicaram que as pessoas não se vestissem de índio, com o argumento de que índio não é fantasia.  O que você pensa disso?
Eu não sou contra. Os índios se posicionaram totalmente contra, falaram que não é fantasia, e tal. Mas eu acho muito massa os mexicanos estarem de cocar na Copa, torcendo. É uma forma de representar, meio estereotipada, mas é. Em algumas escolas, no Dia do Índio, as crianças estão lá fantasiadas gritando ‘uh, uh, uh’. Não tem nenhuma tribo no Brasil que faça isso. Isso é depreciativo. 

Há no Brasil uma mobilização grande por parte dos movimentos negros para que as pessoas se assumam negras e não pardas ou morenas. Em que medida, na sua opinião, essa discussão não acaba apagando ou diminuindo nossa herança indígena?
Tem isso, mas acho que muita gente não se assume indígena por preconceito. Há muitos relatos de índios que moram nas aldeias e preferem não se assumir. Essa identidade está ligada a histórias muito traumáticas. Quando trabalhava no Cedefes [Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva], em Minas, muitas pessoas me ligavam na época que surgiram as cotas dizendo assim: ‘Ah, minha vó foi pega no laço’. O que é a avó ter sido pega no laço? É estupro. ‘Ah, meu avô amansou ela’... Todas essas palavras que se usam... Então você fundar a sua identidade de uma história assim... São séculos de políticas públicas para que essas pessoas deixassem de existir."

Essa situação citada acima merece destaque para o caso emblemático de negação do povo Payayá. O qual, seus ancestrais viviam no centro do território baiano entre a Chapada Diamantina e o recôncavo baiano.

Por que no território do Jacuype/Umburanas (Antonio Cardoso) restou poucos parentes dos nativos guerreiros Payayá na atualidade?

O povo Payayá reduziu da região porque era guerreiro. Nos primeiros séculos da invasão, o rei de Portugal e o Governo Geral da Bahia para tomarem posse do território e subirem os rios Jacuype e Paraguassu em direção ao sertão enfrentavam a muralha humana de guerreiros Payayás.

Então, o rei autorizou que o governador liberassem os invasores matarem todos os nativos guerreiros, principalmente, os homens. Enquanto, os brancos e pretos misturassem com as mulheres nativas para tomarem posse das terras. Ocorreram várias guerras contra os "bárbaros" (termo depreciativo usado pelos brancos na época) Tapuyas Payayá, falantes do Tupy.

As nativas foram estupradas e aquelas que rebelassem seria mortas. Por isso que hoje na região não conservou aldeia. Ainda os parentes atuais dos Payayá são pela parte feminina. O deus principal do povo Payayá é Tupã.

Dentre os vários sentidos da tradução do termo "Payayá", do Tupy para o português, os remanescentes dos Payayá aceitam o sentido "filho do espírito". Segundo alguns pesquisadores após as invasões o grupo  dividiu entre apoiadores e inimigos dos brancos. Daí os brancos denominaram com nomes diferentes.

Mas os parentes dos guerreiros Payayá não abandonam suas  origens nem os ensinamentos de luta de seus ancestrais que tombaram heroicamente, quase foram extintos, na defesa de seu grupo e território. Os descendentes dos índios Payayá continuam vivendo em seu contexto de origem, na kaatynga do sertão baiano.

Dentre as famílias descendentes dos nativos da região em Antonio Cardoso, duas conhecidas ainda conservam alguns traços claros, a Soares do sítio kaatynga e a Bomfim do Travessão. Existem relatos da presença de descendentes do povo Payayá em vários municípios baianos como Santo Estevão, Feira de Santana, Anguera, Irará até a região do rio São Francisco. Outras  contribuições dos nativos ainda estão vivas como o artesanato em vários municípios da BR116, plantas medicinais (ervas), vocabulário, nomes dos rios da região, de comunidades, de plantas como o bioma kaatynga ...

A genética do povo Payayá, originário da região não sumiu, permanece misturada dentro de outras. Embora, alguns pretendem transformar todos em branco e preto.

As opções dada pelo IBGE cria uma realidade falsa sobre a formação étnica do Brasil.

É importante que fique claro que o propósito é chamar a atenção para o método que falsifica o conhecimento gritante sobre a constituição da população brasileira. Isso gera consequências drásticas sobre as populações etnicas, em especial, a nativa.

                                          
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