quarta-feira, 8 de abril de 2020

Antonio Cardoso: por que o município recebeu este nome?

Atualizado em 01/05/2020

Por Arnaldo Soares


Obs: Se copiar o texto cite a fonte para evitar problemas com os direitos autorais.


Em 14 de abril de 1963 foram instaladas a Câmara de Vereador e a Prefeitura. Este ano 2020, o município completa 57 anos que se separou do município de São Gonçalo dos Campos mas caiu no golpe político de parte da família que colocou o nome "Antonio Cardoso" contra a vontade dos moradores. Sempre defendi e continuarei defendendo Plebiscito já para consultar os moradores se o nome "Antonio Cardoso" representa as origens dos moradores do município. 




Umburanas
O nome "Antonio Cardoso" não representa a cultura dos moradores nem a história do território do município. O povo que nega suas origens fica colonizado na História. Segundo os livros História dos índios no Brasil, Pré-história da Bahia, Vestígios de cultura indígena no sertão da Bahia, As excelências do governador, Boletins Ecológicos Paiaiá, Introdução à História de Santo Estevão do Jacuípe e A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720, o povo indígena Payayá (traduzido por alguns do tupy por “filho do espírito das águas”) é o primeiro morador da região das bacias dos rios Paraguassú e Jacuype até a Chapada Diamantina, ainda hoje, seus ascendentes continuam vivendo no território dos seus antepassados. Na chegada dos invasores europeus na região, o território do atual município ficou conhecido por “terra entre os dois rios Jacuype e Paraguassú”.  

Após os administradores da igreja católica criarem a capela dedicada a imagem de Santo Estevão em 1690, na região de Jacuípe, elevou o território à categoria de unidade político administrativa como uma das primeira freguesias (distrito) de Cachoeira, conhecida por Sesmaria de Jacuípe. Segundo o livro Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora, por volta de 1707, os padres trouxeram de Cachoeira uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Jacuípe para a capela de Jacuípe, com o propósito de atrair para a igreja os povos afros. Os quais, viviam escravizados nas fazendas da região juntos com o povo Payayá. Na região só existiam como freguesias de Cachoeira: Jacuípe (hoje Santo Estevão velho), Itapororoca (distrito feirense de Maria Quitéria), Água Fria (hoje município) e São Gonçalo dos Campos (hoje município). Estas freguesias foram criadas na região para expulsarem, catequizarem ou massacrarem o povo Payayá e tomarem as terras. O judeu João Peixotos Viegas e seus herdeiros dominaram as sesmarias de Jacuípe, Itapororoca e Àgua Frias.


Jacuípe

Segundo o livro Índios Tupi-Guarani na Pré-história foram massacradas na bacia do rio Paraguassú 160 aldeias dos povos indígenas com uma população em torno de 50 mil pessoas na época das invasões. Os invasores europeus, além de escravizarem os nativos, matavam de várias formas para roubarem as terras, reservas de águas, minérios, madeiras através: da espada, das armas de fogo, do veneno, da Bíblia (destruindo a cultura causando desorientação, depressão e etc), da guerra biológica (tuberculose, gripe, varíola, peste bubônica, febre tifoide dentre outras doenças) e forçando combater em conflitos contra outros grupos. Mataram os nativos homens, estupraram as nativas mulheres (pegando no laço ou no dente de cachorro), não reconheciam a paternidade dos filhos e roubavam as crianças. As misturas, por estupros ou não, serviam para legitimarem o roubo das terras e todas as riquezas existentes nelas.

A resistência e bravura do povo Payayá contra os invasores europeus duraram séculos com conflitos sangrentos em Ipirá, na Serra do Orobó (alguns pesquisadores dizem que fica em Rui Barbosa) e em Jacobina (os Payayá vencem a primeira batalha contra os paulistas). Vale reforçar que ainda existem vários ascendentes do povo Payayá por toda a região (desde o litoral do recôncavo baiano em Santiago do Iguape até a Chapada Diamantina. Se estende do nordeste baiano em Nova Soure até o Vale do Jequiriçá. Com relatos também no município de Cristinápolis em Sergipe e em Santo Antonio do Texas nos Estados Unidos).      


Os administradores da igreja extraviaram a sede administrativa da comunidade de Jacuípe e levarem para a comunidade vizinha do Adro e denominaram Santo Estevão do Jacuípe após criarem a capela em 1751 (atual cidade de Santo Estevão). Esta denominação do vizinho de Jacuípe pretendia negar a existência da comunidade Jacuípe e garantir os interesses do governo português na tomada das terras do povo Payayá e da igreja com a catequização e a arrecadação do dízimo. Principalmente porque no território vizinho existia uma quantidade considerável do povo Payayá, ainda hoje, o distrito santo-estevense Paiaiá mantém a memória deste povo viva no nome. Nesta época, a comunidade de Jacuípe passou a chamar Santo Estevão Velho e virou território da freguesia de Santo Estevão do Jacuípe (hoje a cidade), quando esta foi reconhecida freguesia em 1752 pelo arcebispo Dom José Botelhos de Mattos, administrado pela Vila de Cachoeira. Ressalta que o leito do rio Jacuype encontra no território da comunidade de Jacuípe e não no da comunidade nova. E o município de Santo Estevão retirou a palavra “jacuípe” do seu nome em 1921.


A comunidade de Jacuípe foi o primeiro território na Bahia a receber este nome. As outras comunidades da Bahia que são denominadas por este mesmo nome são recentes: Santo Estevão do Jacuípe em 1751, Riachão do Jacuípe em 1878, Conceição do Jacuípe em 1961 e São José do Jacuípe em 1989. Veja que nenhuma delas é anterior a 1690, por isso, Jacuípe (hoje Santo Estevão Velho) é a primeira a receber este nome. É provavel que muitos moradores de Jacuípe discordavam de serem administrados pelo Santo Estevão do Jacuípe. 



Para separar as duas comunidades foi criada a capela de Nossa Senhora do Resgate das Umburanas, a pedido do padre de Santo Estevão, Francisco Gomes dos Santos Almeida, o território de Jacuípe voltou a ser elevado à categoria de freguesia filial de Santo Estevão do Jacuípe (distrito de Santo Estevão e como subdistrito de Cachoeira). Foi elevada à condição de freguesia (distrito) pela Resolução Provincial nº 183 de 10 de abril de 1843, sancionada pelo presidente da província da Bahia Joaquim José Pinheiros de Vasconcelos. E instalada através da Resolução do 17º Arcebispo da Província da Bahia, Dom Romualdo Antonio de Seixas, cujos limites territoriais, na época, eram: ao sul com a Freguesia de São Pedro do Monte de Muritiba (1705); ao norte com a Vila do Arraial de Feira de SantAnna (1833); ao leste com a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira (1693) e a Freguesia de São Gonçalo dos Campos (1698); ao oeste com a Freguesia de Santo Estêvão do Jacuípe (1752)Os administradores da igreja católica mudam a sede da comunidade de Jacuípe para o lugar Umburanas. E o antigo território da comunidade de Jacuípe passa a ser conhecido por Umburanas. Mais uma vez o território é o primeiro na Bahia a receber o nome Umburanas. Só depois surge Umburanas (hoje município de Urandi) em 1877 e o atual município do sertão baiano chamado Umburanas a partir de 1989. Ambos surgem depois.


Resgate das Umburanas
O território da Freguesia de Resgate das Umburanas continuou dominado pela Freguesia de Santo Estêvão do Jacuípe até a Lei Provincial nº 804/1876, que incorporou ao território da Cidade Comercial de Feira de Santana para separar os santos Estêvão e abafar a perda do nome da imagem pela capela de Jacuípe. 


Depois o território da Freguesia de Resgate das Umburanas foi incorporado a Vila de São Gonçalo dos Campos quando esta foi criada pela Lei Provincial nº 2.460, de 28/07/1884. Em 1920 o nome do distrito é reduzido para Umburanas. E teve o nome mudado por imposição do poder Estadual para Uberlândia pelo Decreto Estadual nº 11.089, de 30/11/1938, de autoria do Interventor Federal na Bahia, Landulpho Alves, que modificava as denominações de várias comunidades do Estado. Sem consultar seus habitantes nem apresentar explicações convincentes para justificar a mudança. Algum tempo depois, outras comunidades resgataram seu nome histórico que identifica a unidade territorial e respectiva cultura da população. Nenhum representante do distrito de Umburanas na vila de São Gonçalo dos Campos, na época, deu importância.


Posteriormente, a denominação do distrito sangonçalense de Uberlândia mudou para Tinguatiba pelo Decreto Lei Estadual nº 141, de 31/12/1943, retificado pelo Decreto estadual nº 12.978, de 01/06/1944. O nome Tinguatiba ficou até 1963. 

A partir da década de 1960 parte da família Cardoso aproveita que os moradores desejam separar de São Gonçalo dos Campos e impõe seus interesses socioeconômicos e políticos, mudando o nome do território para prestigiar o patriarca da família. Talvez para controlar os moradores eleitoralmente. É importante destacar que a família deste latifundiário dominava as terras onde hoje situa o Posto de Gasolina Somar, desce pela comunidade de Caboronga, passa pela Comunidade de Lagoa encontra na Umburanas sobe por trás do distrito de Jacuípe e encontra na comunidade de Curumatai. Segundo informações a família também tinha terras nas Cardozas (entre a comunidade de Pernambuco e a Caatinguinha no município de Santo Estevão. Hoje parte delas estão submersas pelos rios Curumatai e Paraguassú). Alguns netos, bisnetos e tataranetos ainda herdam destas terras até hoje, enquanto, muitos no município não tem um palmo de terra para plantarem um pé de feijão. Sobre estas terras uma questão continua sem resposta: quais os meios que ele usou para adquirir estas terras? 

Por volta do início da década de 1960, os moradores começam a exigirem a separação do distrito de Tinguatiba do município de São Gonçalo dos Campos. Parte da família Cardoso, que controlava a política no distrito, articula com o deputado estadual Gastão Pedreira, este assume a autoria do projeto de Lei Estadual nº 1.794/61 de emancipação. Após ser aprovado na Assembleia Legislativa da Bahia é transformado na Lei Estadual nº 1.682 de 18/04/1962 e cria o município, mudando o nome do território para Antonio Cardoso. Mas em nenhum momento os moradores foram consultados sobre o nome do município. Prevaleceu os interesses políticos de parte da família Cardoso, que apoiava o deputado no distrito, para continuar controlando os moradores eleitoralmente.

instalação da Câmara de Vereador e da Prefeitura só ocorre em 14 de abril de 1963, emancipando o território de São Gonçalo dos Campos e passando a chamar Antonio Cardoso. Por volta de 1966, o território volta a ser dominado por Santo Estevão, sendo anexado como Comarca Jurídica. 

Muitos confundem, achando que o homenageado com o nome do município trata do primeiro prefeito mas o nome e a homenagem é feita ao avô. Ou seja, Antonio Cardoso de Sousa (popular Tonho Cardoso) é avô do primeiro prefeito Antonio Cardoso de Sousa (neto) em 1963. Observa-se que o território do município já existia há séculos antes de ser incorporado a São Gonçalo e não foi criado pelo latifundiário local porque Antonio Cardoso de Sousa nasceu depois em 1848 e faleceu em 1932. O controle eleitoral da família Cardoso conseguiu eleger vários prefeitos, vereadores e até hoje alguns ascendentes da família assumem cargos municipais de confiança política. Outro detalhe importante é que nos dias atuais a igreja católica ainda continua reconhecendo o  segundo nome oficial do território, Umburanas, confira clicando aqui.

Mas quem foi Antonio Cardoso para denominar o território? O que ele fez em benefício dos moradores? Para se compreender como o nome “Antonio Cardoso” foi colocado no território e imposto aos moradores recorremos as fontes documentais.   


Segundo Renato Galvão “Antonio Cardoso de Sousa (popular Tonho Cardoso), que deu nome ao município – e á cidade, pela a inscrição na lapide tumular nº 10 de maio de 1848 e faleceu a 10 de outubro de 1932. Conforme os autos do inventário, era natural da freguesia de N. S. do Regate das Umburanas, filho legítimo de Manoel Cardoso de Sousa e D. Maria Louvada. Não foi encontrado, todavia o registro de Batismo nos livros da época existentes no Arquivo Diocesano. Os homens estão vinculados ao contexto social do tempo em que viveram. Assim devem ser estudados e analisados. Homem dedicado ao trabalho, foi de numerosa prole, possuidor de extensas propriedades e hospitaleiro, nele o poder econômico estava aliado ao poder político. Os velhos chefes sertanejos eram em geral inteligentes, corajosos, homens de liderança fortes, cheios de bom senso, força moral e equilibrados. Desde o império e até mesmo no tempo da velha República, os governos se apoiavam no poder fundiário a até dependiam das oligarquias rurais. Em Umburanas não se iria fugir ao modelo político da época. A representação política do distrito teve continuidade no espírito pacato e conciliador de seu genro Tibúrcio José de Oliveira [popular Tiburcinho, grifo nosso]. Na descendência do Cel. Antonio Cardoso de Sousa, um neto foi o primeiro, prefeito eleito do município, o terceiro foi um bisneto e o quarto, o atual chefe do executivo Luis Cardoso de Oliveira (1979), também é seu neto.


Gastão Sampaio (p. 151 a 153) relata que “o cangaço nordestino teve, na Bahia, modalidade do tipo jagunçada, que tanto ensanguentou inocentes, escrevendo páginas que nada construíram em nossa vida social. Intranquilizou os sertões de outrora. Foi um precedente perigoso e um exemplo deprimente que impediu um melhor desenvolvimento do Nordeste. Sua debelação parcial se deu em 1930. Mas os “Coronéis” continuaram com suas posições nas regiões mais distantes. Somente mais tarde foi extirpado esse tipo de banditismo. [...] o jagunço era o herói da traição “por trás do pau”. Confiado no patuá, cometia crimes como se praticasse um esporte. [...]

Estes acontecimentos deram um respaldo moral a muitos outros quando posteriormente formaram seus grupos. Colocaram-se em seus covis, utilizando-se de subalternos, na maioria dos casos criminosos, foragidos da Justiça, malfeitores ou desordeiros. Mantinham-nos como trabalhadores rurais e obtinham todas as vantagens, utilizando-se por vezes dos próprios Juízes de Paz que, por medo ou interesse, acobertavam seus crimes praticando outros, mandando e desmandando. Não raro, tinham os subdelegados como comparsas. Estes, por sua vez, mantinham armados os Inspetores de Quarteirão que constituíam seu verdadeiro corpo policial. As ocorrências e inquéritos, quando abertos, faziam-se à revelia da vítima que, se levasse à sede da Comarca uma queixa, estaria sujeita àqueles mesmos elementos na apuração dos acontecimentos. Podia até o queixoso ir parar na cadeia. Era, por exemplo, de conhecimento geral que, em Umburanas, na década de 20, autoridades utilizavam o tronco como castigo, quando não o próprio “couro”. Este é um instrumento de tortura possivelmente utilizado na idade medieval. Compunha-se de um couro de boi, curtido, onde o homem enfiava as pernas e os braços que eram posteriormente atados. Tinham condição de movimentar apenas a cabeça, satisfazendo, incorretamente, as necessidades fisiológicas. Não acreditamos que um homem preso a tal instrumento de tortura pudesse resistir com vida por muitas horas. É possível que como prêmio, distritos atuais possuam o nome de tais heróis. Este coito de Umburanas foi desfeito por expedição especial.

Mesmo assim, em 1934, tivemos de deixar a região já que naquela época, as garantias não eram ainda satisfatórias. É possível que tal estado tenha perdurado mais uma década além da citada. [...]

Quando nos entendemos e passamos a ter conhecimento das coisas, visitando antigas senzalas, conhecemos o tronco. Buarque de Holanda Ferreira exprime, com perfeição, o que tenha sido tal instrumento de castigo: “antigo instrumento de tortura, que consistia num cepo com olhais, onde se metia o pé ou o pescoço do paciente”. Quanto ao “couro”, vimo-lo uma vez utilizado em proximidades de Bom Despacho, Jaguara [hoje distrito feirense, grifo nosso], contendo um louco furioso. Pelo modo como estava amarrado, o doente parecia uma verdadeira esfera. Ficamos tão horrorizados que não mantivemos o olhar e felizmente, não retivemos com muita precisão os detalhes.


Poço

Na década de 20, ditos instrumentos eram utilizados por alguns subdelegados de distritos de Feira de Santana. Vimos um tronco na delegacia de Lino Marques, em Gameleira (com a barragem Pedra do Cavalo foi relocada de lugar virou o atual Ipuaçu. Grifo nosso], num quarto contíguo à sala de entrada. Além da mesinha e do banco, em uma das paredes havia uma espada e uma palmatória. O manguá é o chicote de vários relhos e não figurava na ornamentação das paredes, era o elemento principal e de rotina, utilizado como festiva recepção a presos tidos como de maior periculosidade.

Além do tronco, Tonho Cardoso, em Umburanas, usava o couro. Esta autoridade agia com mais severidade, possuindo homens armados, alguns criminosos, que para ali acorriam. Ninguém tinha audácia de ir buscá-lo, temendo sair apanhado ou sem vida. Após a revolução de 30, foram banidos tais instrumentos, embora as autoridades continuassem as mesmas, mantendo o seu poder eleitoreiro até que, numa determinada ação policial, foram dissipadas tais práticas. Desconheço ocorrências similares em outras delegacias.” (SAMPAIO, p. 151 a 154).

Está aí alguns métodos que os invasores europeus usaram para roubarem as terras do povo Payayá e escravizá-los junto com os povos afros na região. Além da escravidão e matanças controlaram os povos Payayá e afros através da brutalidade do banditismo dos jagunços mandados pelos coronéis latifundiários. Se os ascendentes dos brancos e afros, hoje misturados ou não, tem o direito sobre seus antepassados, os atuais ascendentes do povo Payayá também tem direito sobre seus ancestrais massacrados e estão em retomadas por todo o território original dos seus antigos entre o litoral do recôncavo e a Chapada Diamantina, estendendo do nordeste baiano - na região de Nova Soure - até o Vale do Jequiriçá. 

Há séculos a elite branca brasileira e estrangeira manipula a população desconstruindo a genética dos ascendentes dos povos nativos para legitimar o direito de herança sobre o roubo e as barbaridades dos avós dela ou manter a dominação sobre a terra, reservas de minérios, água, madeira, etc. Nenhum povo do planeta terra é totalmente puro geneticamente e culturalmente. Portanto o discurso dos ascendentes dos invasores de acusarem que povos nativos, misturados ou não, são inexistentes é tão vazio que só serve para iludir as mentes fracas. Se os ascendentes nativos não tem vínculos com seus passados, os brancos também não tem direito de herdarem os roubos dos seus avós porque não são mais os mesmos brancos. Além disso, muitos nativos se afastaram da cultura dos seus antepassados porque foram e continuam sendo expulsos pelos brancos e aliados para roubarem as terras e destroem as matas. Agora pergunto: se os nativos, miscigenados ou não, perderam sua originalidade, o que garante a originalidade dos brancos na América para garantir o direito deles sobre as heranças dos passados roubadas? Mas por que os brancos acusam que os nativos não são mais originários? Porque os ascendentes nativos que acreditam nos discursos deles perdem o direito dos seus ancestrais, para as leis inventadas pelos invasores, e muitos não cobram a devolução do que roubaram e esquecem das mortes inocentes dos seus antepassados dentro da sua própria casa. Mais ainda, se aqueles que carregam o sangue nativo, misturado ou não, perderam o direito sobre o que roubaram dos seus ancestrais por que os brancos que não tem nenhum parentesco com o sangue nativo pode continuar dominando as terras da América ou tem o direito sobre os roubos dos seus avós que não são originários da América? 
              


Oleiros
O município possui hoje quatro distritos: Jacuípe (criado pelos padres em 1690 como freguesia - distrito - de Cachoeira e ratificado pela Lei Municipal nº 030/1999 de 03/08/1999), Poço (reconhecido através da Lei Municipal nº 030/1999 de 03/08/1999), Oleiro (reconhecido pela Lei Municipal nº 034/2008 de 23/12/2008) e Umburanas (criado como distrito de Santo Estevão e reconhecido pela Resolução Provincial nº 183 de 10/04/1843).


Hoje, tirando o nome "Antonio Cardoso" do território, qual seria o novo nome do município? A convocação de um Plebiscito, por iniciativa dos moradores ou da Câmara de Vereador, pode resolver esta questão. Por ora, como já existe outro município chamado Umburanas no estado da Bahia, seria impossível colocar este. Mas nada impede juntar os nomes Umburanas e Jacuípe, formando Umburanas de Jacuípe, para preservar toda a história da região. Assim como existem vários municípios baianos que tem as mesmas palavras no início do seu nome como Feira de Santana e Feira da Mata dentre outros com as palavras "santa, rio, são, varzea, conceição, barra e nova". A melhor via é escolher um nome com conteúdo na cultura dos moradores que preserve a história do território e tenha aceitação da maioria dos moradores.

Diante dos fatos documentados alguém ainda tem dúvida que precisa tirar o nome “Antonio Cardoso” do município? Sempre defendi e continuarei defendendo a convocação de Plebiscito para os moradores decidirem se aceitam este nome para representar suas origens. Infelizmente, os governantes municipais que passaram pelo poder e estão envolvidos com a política municipal são dominados pelos interesses pessoais e a ignorância. A única causa que eles lutam é garantir o salário da função pública. Enquanto isso, a identidade cultural dos moradores continua ignorada ou abandonada por seus governantes. O povo que nega suas origens fica colonizado na História.



Fontes:


Arquivo Público do Estado da Bahia.

GALVÃO, Renato. Notas sobre Antonio Cardoso.      

Livro História dos Índios no Brasil.

Livro Pré-história da Bahia. 

Livro Vestígios de cultura indígena no sertão da Bahia. 

Livro A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720.

Livro As Excelências do Governador.

Livro Índios Tupi-Guarani na Pré-história.

Livro Boletins Ecológicos Paiaiá.

Livro Introdução à História de Santo Estevão do Jacuípe.

Livro Feira de Santana e o Vale do Jacuípe. 

Livro Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora.

Lei Estadual nº 1.682 de 18/04/1962.


História do município de Santo Estevão. IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Vol. XXI. RJ, 1958.

História do município de São Gonçalo dos Campos.


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1 comentários:

WllyLuz disse...

Parabéns Arnaldo Sares. O texto é de grande relevância para quem realmente se importa com os feito ocorrido em nosso município. Pena que o legislativo escolhidos pelos munícipes não defendam um plebiscito.

 
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