quarta-feira, 17 de outubro de 2018

"Índio" termo falso para identificar os povos da América

Europeus falsificaram a história e a cultura dos povos do novo continente (América). Chamaram seu povo de Índio mas aqui não é o país Índia. Ainda Índio é um elemento químico. Onde existir grupos humanos com características próprias, o correto é denominar POVO.

As sociedades dos brancos e pretos não conhecem esses povos. Elas se fundamentam nas ilusões que inventaram sobre esses povos. Interpretam a partir da língua portuguesa, de suas compreensões e padrões, pois, se quer conseguiram dominar as línguas desses povos. Forçaram abandonar suas línguas para desaparecerem por completo dos contextos sociais. Transformaram em povos estrangeiros dentro do território.


Os brancos usaram a brutalidade e os pretos para descaracterizarem a sociedade dos povos originários através da mistura cultural e racial. A partir da perda das origens tomaram as terras, madeiras, fonte de águas, reservas minerais,...

O novo continente não é a Índia nem possui índio. Essa concepção falsa, apesar de ensinada em universidade e escola, não expressa a realidade. Ela serviu para justificar a dominação. Por isso, esses povos continuam desconhecidos para as ciências limitadas européias. 

‘Não existem índios no Brasil’, diz o escritor Daniel Munduruku

Autor indígena premiado internacionalmente destacou, na Flica, que é preciso desconstruir o estereótipo

“Apesar dessa minha aparência, do meu cabelo liso, dos meus olhinhos puxados, da maçã do rosto saliente, eu não sou índio. Ainda diria mais: não existem índios no Brasil”, disse o escritor paraense Daniel Munduruku, 53 anos, premiado internacionalmente por sua contribuição com a literatura indígena, durante a última mesa da Festa Literária Internacional de Cachoeira, na manhã deste domingo (8).
Pertencente à etnia indígena mundurucu e graduado em filosofia, história e psicologia, com mestrado em antropologia social pela USP, Daniel justificou que ser chamado de índio é um apelido, já que envolve um estereótipo que habita o inconsciente coletivo. De um lado, exemplificou o autor, existe a imagem do índio que vive na floresta, “tranquilão, respirando ar puro” e que fica o tempo inteiro na rede “coçando o pé”. Do outro, há a visão do “índio preguiçoso, selvagem, atrasado, sujo e traiçoeiro”.
“Nascer índio é um defeito, porque essa imagem foi o tempo inteiro sendo jogada na cabeça da gente”, denunciou Daniel, durante a mesa A Imperdoável Capacidade Humana de Apagar seus Antepassados, que contou mediação de Suzane Lima Costa e participação da professora, escritora e ativista carioca Eliane Potiguara. Esse estereótipo, destacou Daniel, foi sendo construído na memória ao longo do tempo, principalmente por meio da formação do pensamento universitário e das escolas, que “seguem a lógica colonialista”.
“A palavra índio não retrata minha experiência de pertencimento a um povo. Não sou índio, sou mundurucu. Pertenço a um povo e esse povo tem um lugar, uma história, tradição, cultura, religiosidade, economia... No entanto, quando as pessoas me chamam de índio, elas ignoram a minha experiência de humanidade. Quando digo que não sou índio, digo que não sou uma ideia que as pessoas desenvolveram equivocadamente. É isso que nós queremos trazer com a literatura que nós escrevemos”, justificou.
Filha de nordestinos, pobres, mulheres e negras, “quatro tipos de discriminação”, Eliane Potiguara reforçou que os povos indígenas não são pessoas que não querem trabalhar. “Lutamos para um desenvolvimento sustentável voltado para nossa produtividade. Os povos negros e indígenas, sempre foram os mais discriminados. Deveríamos ter mais compaixão, solidariedade e não pena e discriminação. É isso que os povos indígenas sofrem em cinco séculos de colonização”, denunciou Eliane, 67.
Nomeada embaixadora universal da paz, em Genebra, a autora chamou a atenção para o fato de que existem mais de 330 povos indígenas no Brasil, “cada um com uma raiz, com suas características linguísticas, com sua cultura”. Apesar disso, o preconceito não permite que essa diversidade tenha espaço. “Como indígenas, sempre fomos povos invisíveis”, lamentou. “Demos um passo grande e não vou dizer que saímos da invisibilidade, mas estamos visíveis. Esse momento é um momento histórico que vocês estão vendo: pela primeira vez, dois escritores indígenas na Flica”, comemorou.
Durante o evento, Daniel Munduruku destacou que já existem 180 títulos de escritores indígenas publicados no país e que faz literatura para ajudar o Brasil “a rir de si mesmo”. “Aprendi com um filosofo grego que a melhor forma da gente incomodar, é ironizando as coisas. Um pouco da minha verve literária veio da capacidade de olhar para os acontecimentos do mundo e rir. Rir da gente mesmo é uma forma de proteção. Fazer piada de si mesmo é sempre o melhor remédio”, defendeu.
O autor também chamou a atenção para o fato de que é necessário construir uma identidade e autoestima indígena no Brasil, que segue resistindo. “Os povos indígenas estão sobrevivendo, estamos tentando nos manter vivos. É muito sofrimento, lamento, choro. Mas se tem uma coisa que me orgulho é que temos uma resistência que tem a ver com o espírito da gente, com nossa alma ancestral. É essa dignidade que nos causa alegria. Não somos seres do passado, somos seres contemporâneos desse mundo em transformação”, finalizou.

https://www.correio24horas.com.br/amp/nid/nao-existem-indios-no-brasil-diz-o-escritor-daniel-munduruku/
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